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sábado, 1 de dezembro de 2012

QUEIMADAS 300 ANOS

Bem, nossa cidade de Queimadas está completando hoje, 300 ANOS. Explico: há três séculos começava nossa colonização, pelo menos em termos oficiais, porque nesta data, 01 de Dezembro de 1712, o bandeirante baiano Pascácio de Oliveira Ledo recebeu uma data de terra nessas paragens, e a partir dela originou-se a nossa cidade.

Convenhamos, a data é especial. Entretanto, deixou-se que a mesma passasse despercebida. Na impressa nem uma nota. Oficialmente nenhuma manifestação (nem uma banda marcial na rua). Nas escolas ninguém conhece o fato. Nos sites e blogs da cidade, é preferível noticiar (compilar) quem foi que ganhou o concurso de “bunda mais bonita do Brasil” ou os grupos da copa das confederações, a falar de nossa história.
Nenhuma palestra, ou debate, ou um informativo, ou uma exposição de fotos, nada. Mais o fato é que estamos chegando aos 300 anos de colonização. 
O TEMA EM OUTRAS POSTAGENS NOSSAS - clique nos links:
http://tataguassu.blogspot.com.br/2012/04/queimadas-300-anos.html
 
EM TARCÍSIO DINOÁ (www.geocities.ws/dinoamedeiros/PascacioOLedo.html) A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE QUEIMADAS.

EM BOULENGER UCHOA A DATA É 18 DE DEZEMBRO - UM COCHILO DO VELHO MESTRE.
 
Boulanger de Albuquerque Uchoa é o cidadão da foto abaixo, ao lado da capa de seu livro "História Eclesiástica de Campina Grande" que tráz o resumo da história de Queimadas visto acima.
 
 
Veja o que disse Vandeley de Brito, em 2010, na revista do SPA (Sociedade Paraibana de Arqueologia)

Apontamentos para a História do município de Queimadas-PB
Vanderley de Brito*
Queimadas é uma cidade que se encontra na base sul da serra de Bodopitá, distante apenas 18 km de Campina Grande. A região, antes da ocupação comandada pelos sertanistas da família Oliveira Ledo, ligados à Casa da Torre, foi sucessivamente ocupado por sociedades nativas pré-históricas, cujos vestígios ainda podem ser encontrados nos sítios arqueológicos que ainda existem na serra e suas circunjacências.
Estes vestígios se configuram em inscrições rupestres e outros indicativos materiais como ossadas sepultas em furnas, cacos cerâmicos, artefatos e utensílios de pedra e restos de trançados e esteiras vegetais. Não se sabe a que culturas pertenceram estes vestígios e que passado remontam. Uma vez que sucessivas levas humanas devem ter ocupado a região em tempos diferentes e com características também diferenciadas. Pois, estudos e datações realizadas ao longo dos últimos 30 anos indicam que toda a região do Nordeste foi largamente ocupada por sociedades pré-históricas desde há pelo menos 10.000 anos.
As fontes históricas indicam que quando os portugueses chegaram à região circunjacente à Bodopitá não havia aldeias instaladas nestas paragens, não há registros de guerras entre sertanistas e índios na região nem depoimentos de haverem índios por lá.
Segundo os documentos, eram terras devolutas. È bem possível que povos nativos vivessem nesta região por volta do século XVII e, em vistas da chegada dos portugueses, abandonaram suas terras para evitar o trágico contato.
A chegada dos portugueses à região é registrada em documentos de sesmaria, e estes certamente foram os responsáveis pelo assentamento de um grupo aliado de índios da nação Cariri, chamados Bodopitá, para cuidarem dos currais e assegurarem a posse. Esse tipo de estratégia era muito utilizado pela família Oliveira Ledo desde a chegada de Antônio de Oliveira Ledo que instalou em 1670 um arraial às margens do rio Paraíba no boqueirão da serra de Carnoió.
De acordo com Irinêo Joffily, em sua  Synopsis das Sesmarias, quem primeiro teria instalado curral e solicitado concessão das terras na região de Bodopitá foi o capitão Pascácio de Oliveira Ledo, que, por ter servido como fiel vassalo à Sua Majestade nas conquistas dos sertões da Capitania da Paraíba, fazendo guerra ao gentio bravio, e por não possuir terras capazes para lavouras e criar gado, solicitou a El Rei de Portugal “uma sorte de terras no olho d’água que fica ao pé da serra chamada Bodopitá”. A sesmaria das terras lhe foi concedida em 1712, com largura e comprimento de duas léguas de terra.
Este sertanista já havia anteriormente instalado uma fazenda de criar gado num lugar denominado Porteiras e também recebera terras por via de sesmaria em 1695 nas cabaceiras do rio Taperoá, tendo, em 1700, vendido estas terras aos senhores Domingos de Farias e Castro e Antônio Ferreira Guimarães. Talvez, por isso, doze anos depois, no pedido de sesmaria de Bodopitá, o mesmo alegou “não possuir terras capazes para lavouras e criar gado”.
Pascácio ocupou as terras “mettendo-lhe gado de crear e beneficiando-a”, mantendo-se nos domínios destas terras desde que a pediu até pelo menos o ano de 1732. Ano em que lhe foi retificada a sesmaria por não ter feito até então o devido registro da terra nos livros da Fazenda Real.
Considerado pela História como o fundador de Queimadas, o capitão Pascácio de Oliveira Ledo era filho bastardo de Constantino Oliveira Ledo com uma cabocla Cariri e, portanto, meio-irmão do famoso sertanista Teodósio Oliveira Ledo. Segundo conta a tradição, Pascácio casou-se fugido com Cristina Rodrigues, filha de um rico fazendeiro de tradicional família da Bahia descendente de fidalgos do Reino Português. Devido este romance não ter sido aceito pelo pai da moça, que relutava em aceitar o casamento de sua filha com um “bastardo mameluco”, o casal resolveu fugir de madrugada a cavalo e buscado refúgio na Paraíba, no arraial de Boqueirão de seu tio Antônio Oliveira Ledo. Este fato deve ter ocorrido em fins do século XVII, porque, em 1712, de acordo com a sesmaria das terras de Bodopitá,: “o supplicante tinha já bastantes annos com a obrigação de mulher e filhos”. Quanto à tradição de que as terras da atual Queimadas teriam sido chamadas inicialmente de Tataguaçu, dialeto tupi que quer dizer “fogo grande”, não existem documentos que comprove. Na verdade, o topônimo “Queimadas” já aparece num documento de 1732, sobre a concessão destas terras, fazendo referência as queimadas na terra da seguinte forma:
“(...) beneficiando-a e fazendo-lhe fogo por ser inculta e muito fechada, e pelas muitas queimadas que fez resultou-lhe ficar por nome o sítio das Queimadas(...)”.
Contudo, é possível que os habitantes do lugar chamassem ali de Tataguaçu, uma vez que a Língua Geral era o dialeto usado na época e, como o documento oficial de sesmaria requer refino e precisão descritiva, não seria despropósito imaginar que o termo foi aportuguesado no documento pelo transcrito para se fazer mais claro. Talvez o topônimo “Queimadas” só tenha se consolidado a partir de 1757, com a Lei Real que proibia a utilização do tupi. Com a expulsão dos jesuítas, dois anos depois, o Português fixou-se definitivamente como o idioma do Brasil.
Em 1943, o nome Tataguaçu passou, ou voltou, a nomear o lugar em virtude do Decreto Lei Estadual no 520, que modificou o nome da antiga vila de Queimadas para o seu correspondente em tupi. O mesmo aconteceu na época com Boqueirão, que passou a ser chamado pelo antigo nome indígena de Carnoió, com Lagoa Seca que passou a assumir seu nome indígena de Ipuarana, entre outros. Estas modificações devem ter sido influenciadas pelo movimento antropófago lançado por Oswaldo de Andrade e Tarsila do Amaral nos anos 20. No entanto, nenhum destes nomes conseguiu se manter e os lugares voltaram aos seus nomes tradicionais.
Não se sabe quando ou em que circunstâncias os currais dos Oliveira Ledo deixaram a região. A saída desta família do lugar talvez esteja relacionada com a Ordem Régia de 20 de outubro de 1753, que revogou as grandes sesmarias concedidas à Casa da Torre e à família Oliveira Ledo na Paraíba, passando estas propriedades para o domínio dos colonos foreiros e arrendatários. Destes, e outros que foram se estabelecendo gradativamente na região, foi que surgiu, a sombra de Bodopitá, o povoado de Queimadas. Hoje cidade.
          Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 43 Janeiro de 2010.

* Vanderley de Brito – campinense e professor da UEPB, é um grande estudioso de arqueologia, com trabalho desenvolvido nos sítios arqueológicos de Queimadas, chegando até a ser o descobridor de alguns, o que o fez bom conhecedor da história dessa cidade. Compilamos abaixo um texto do citado mestre para que o povo de Queimadas conheça o trabalho desse cidadão em relação ao nosso Município.




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