Bem, nossa cidade de Queimadas está completando
hoje, 300 ANOS. Explico: há três séculos começava nossa colonização, pelo menos
em termos oficiais, porque nesta data, 01 de Dezembro de 1712, o bandeirante
baiano Pascácio de Oliveira Ledo recebeu uma data de terra nessas paragens, e a
partir dela originou-se a nossa cidade.
Convenhamos, a data é especial. Entretanto, deixou-se
que a mesma passasse despercebida. Na impressa nem uma nota. Oficialmente
nenhuma manifestação (nem uma banda marcial na rua). Nas escolas ninguém conhece
o fato. Nos sites e blogs da cidade, é preferível noticiar (compilar) quem foi
que ganhou o concurso de “bunda mais bonita do Brasil” ou os grupos da copa das
confederações, a falar de nossa história.
Nenhuma palestra, ou debate, ou um informativo, ou
uma exposição de fotos, nada. Mais o fato é que estamos chegando aos 300 anos
de colonização.
O TEMA EM OUTRAS POSTAGENS NOSSAS - clique nos links:
http://tataguassu.blogspot.com.br/2012/04/queimadas-300-anos.html
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EM TARCÍSIO DINOÁ (www.geocities.ws/dinoamedeiros/PascacioOLedo.html) A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE QUEIMADAS.
EM BOULENGER UCHOA A DATA É 18 DE DEZEMBRO - UM COCHILO DO VELHO MESTRE.
Boulanger de Albuquerque Uchoa é o cidadão da foto abaixo, ao lado da capa de seu livro "História Eclesiástica de Campina Grande" que tráz o resumo da história de Queimadas visto acima.
Veja o que disse Vandeley de Brito, em 2010, na revista do SPA (Sociedade
Paraibana de Arqueologia)
Apontamentos para a
História do município de Queimadas-PB
Queimadas é uma cidade
que se encontra na base sul da serra de Bodopitá, distante apenas 18 km de
Campina Grande. A região, antes da ocupação comandada pelos sertanistas da
família Oliveira Ledo, ligados à Casa da Torre, foi sucessivamente ocupado por
sociedades nativas pré-históricas, cujos vestígios ainda podem ser encontrados
nos sítios arqueológicos que ainda existem na serra e suas circunjacências.
Estes vestígios se
configuram em inscrições rupestres e outros indicativos materiais como ossadas
sepultas em furnas, cacos cerâmicos, artefatos e utensílios de pedra e restos
de trançados e esteiras vegetais. Não se sabe a que culturas pertenceram estes
vestígios e que passado remontam. Uma vez que sucessivas levas humanas devem
ter ocupado a região em tempos diferentes e com características também
diferenciadas. Pois, estudos e datações realizadas ao longo dos últimos 30 anos
indicam que toda a região do Nordeste foi largamente ocupada por sociedades
pré-históricas desde há pelo menos 10.000 anos.
As fontes históricas
indicam que quando os portugueses chegaram à região circunjacente à Bodopitá
não havia aldeias instaladas nestas paragens, não há registros de guerras entre
sertanistas e índios na região nem depoimentos de haverem índios por lá.
Segundo os documentos,
eram terras devolutas. È bem possível que povos nativos vivessem nesta região
por volta do século XVII e, em vistas da chegada dos portugueses, abandonaram
suas terras para evitar o trágico contato.
A chegada dos portugueses
à região é registrada em documentos de sesmaria, e estes certamente foram os
responsáveis pelo assentamento de um grupo aliado de índios da nação Cariri,
chamados Bodopitá, para cuidarem dos currais e assegurarem a posse. Esse tipo
de estratégia era muito utilizado pela família Oliveira Ledo desde a chegada de
Antônio de Oliveira Ledo que instalou em 1670 um arraial às margens do rio
Paraíba no boqueirão da serra de Carnoió.
De acordo com Irinêo
Joffily, em sua Synopsis das Sesmarias, quem primeiro teria instalado curral e
solicitado concessão das terras na região de Bodopitá foi o capitão Pascácio de
Oliveira Ledo, que, por ter servido como fiel vassalo à Sua Majestade nas
conquistas dos sertões da Capitania da Paraíba, fazendo guerra ao gentio
bravio, e por não possuir terras capazes para lavouras e criar gado, solicitou
a El Rei de Portugal “uma sorte de terras no olho d’água que fica ao pé da
serra chamada Bodopitá”. A sesmaria das terras lhe foi concedida em 1712, com
largura e comprimento de duas léguas de terra.
Este sertanista já havia
anteriormente instalado uma fazenda de criar gado num lugar denominado
Porteiras e também recebera terras por via de sesmaria em 1695 nas cabaceiras
do rio Taperoá, tendo, em 1700, vendido estas terras aos senhores Domingos de
Farias e Castro e Antônio Ferreira Guimarães. Talvez, por isso, doze anos
depois, no pedido de sesmaria de Bodopitá, o mesmo alegou “não possuir terras
capazes para lavouras e criar gado”.
Pascácio ocupou as terras
“mettendo-lhe gado de crear e beneficiando-a”, mantendo-se nos domínios destas
terras desde que a pediu até pelo menos o ano de 1732. Ano em que lhe foi
retificada a sesmaria por não ter feito até então o devido registro da terra
nos livros da Fazenda Real.
Considerado pela História
como o fundador de Queimadas, o capitão Pascácio de Oliveira Ledo era filho
bastardo de Constantino Oliveira Ledo com uma cabocla Cariri e, portanto,
meio-irmão do famoso sertanista Teodósio Oliveira Ledo. Segundo conta a
tradição, Pascácio casou-se fugido com Cristina Rodrigues, filha de um rico
fazendeiro de tradicional família da Bahia descendente de fidalgos do Reino
Português. Devido este romance não ter sido aceito pelo pai da moça, que
relutava em aceitar o casamento de sua filha com um “bastardo mameluco”, o
casal resolveu fugir de madrugada a cavalo e buscado refúgio na Paraíba, no
arraial de Boqueirão de seu tio Antônio Oliveira Ledo. Este fato deve ter
ocorrido em fins do século XVII, porque, em 1712, de acordo com a sesmaria das
terras de Bodopitá,: “o supplicante tinha já bastantes annos com a obrigação de
mulher e filhos”. Quanto à tradição de que as terras da atual Queimadas teriam
sido chamadas inicialmente de Tataguaçu, dialeto tupi que quer dizer “fogo
grande”, não existem documentos que comprove. Na verdade, o topônimo
“Queimadas” já aparece num documento de 1732, sobre a concessão destas terras,
fazendo referência as queimadas na terra da seguinte forma:
“(...) beneficiando-a e fazendo-lhe fogo por ser
inculta e muito fechada, e pelas muitas queimadas que fez resultou-lhe ficar
por nome o sítio das Queimadas(...)”.
Contudo, é possível que
os habitantes do lugar chamassem ali de Tataguaçu, uma vez que a Língua Geral
era o dialeto usado na época e, como o documento oficial de sesmaria requer
refino e precisão descritiva, não seria despropósito imaginar que o termo foi
aportuguesado no documento pelo transcrito para se fazer mais claro. Talvez o
topônimo “Queimadas” só tenha se consolidado a partir de 1757, com a Lei Real
que proibia a utilização do tupi. Com a expulsão dos jesuítas, dois anos
depois, o Português fixou-se definitivamente como o idioma do Brasil.
Em 1943, o nome Tataguaçu
passou, ou voltou, a nomear o lugar em virtude do Decreto Lei Estadual no 520,
que modificou o nome da antiga vila de Queimadas para o seu correspondente em
tupi. O mesmo aconteceu na época com Boqueirão, que passou a ser chamado pelo
antigo nome indígena de Carnoió, com Lagoa Seca que passou a assumir seu nome
indígena de Ipuarana, entre outros. Estas modificações devem ter sido
influenciadas pelo movimento antropófago lançado por Oswaldo de Andrade e
Tarsila do Amaral nos anos 20. No entanto, nenhum destes nomes conseguiu se
manter e os lugares voltaram aos seus nomes tradicionais.
Não se sabe quando ou em
que circunstâncias os currais dos Oliveira Ledo deixaram a região. A saída
desta família do lugar talvez esteja relacionada com a Ordem Régia de 20 de
outubro de 1753, que revogou as grandes sesmarias concedidas à Casa da Torre e
à família Oliveira Ledo na Paraíba, passando estas propriedades para o domínio
dos colonos foreiros e arrendatários. Destes, e outros que foram se
estabelecendo gradativamente na região, foi que surgiu, a sombra de Bodopitá, o
povoado de Queimadas. Hoje cidade.
Boletim Informativo da Sociedade
Paraibana de Arqueologia - Nº 43 Janeiro de 2010.
* Vanderley de Brito – campinense e professor da
UEPB, é um grande estudioso de arqueologia, com trabalho desenvolvido nos
sítios arqueológicos de Queimadas, chegando até a ser o descobridor de alguns,
o que o fez bom conhecedor da história dessa cidade. Compilamos abaixo um texto
do citado mestre para que o povo de Queimadas conheça o trabalho desse cidadão
em relação ao nosso Município.
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